CÂNCER DE CABEÇA E PESCOÇO: COMPLICAÇÕES NO TRATAMENTO
Ninguém nunca espera uma doença como o câncer, não é mesmo? O câncer de cabeça e pescoço é a doença mais complexa da cavidade bucal. Muitas pessoas passam meses ou até anos com a enfermidade subdiagnósticada, o que pode dificultar o tratamento e afetar consideravelmente a qualidade de vida do paciente. É justamente por isso que sugerimos consultas regulares a cada seis meses.
Esse tipo de câncer pode ser decorrente de maus hábitos. Fumar é o principal hábito deletério. Mas ele também pode surgir por exposição solar inadequada (não uso dos protetores solares), a partir da contaminação de micro-organismos (HPV) e do crescimento indiferenciado de algumas células (erro na contagem, na divisão celular). O tratamento para tumores malignos consiste nas cirurgias de ressecção da massa tumoral, na quimioterapia e na radioterapia. Mas nem sempre todos esses tratamentos são necessários, podendo acontecer apenas um ou a combinação de dois deles.
O paciente que faz tratamento de radioterapia para o câncer de cabeça e pescoço terá a quantidade e qualidade de saliva afetada. A incidência de hipossialia (redução do fluxo salivar) é de 80% em pessoas que fazem radioterapia para tratar esse tipo de câncer de cabeça e pescoço Essa consequência acontece durante o tratamento, por certo tempo
após a conclusão do tratamento ou, ainda, perdurar por toda a vida. Tudo isso depende de qual foi o regime radioterápico (fótons, prótons, dose…) empregado. A quimioterapia também pode levar a esses desconfortos provocados pela radioterapia. E não é somente em tratamento de câncer de cabeça e pescoço que as doenças bucais acontecem. Elas podem acontecer em caso de tratamento de câncer sistêmico.
Entretanto, podemos prevenir algumas infecções bucais que são decorrentes da alteração salivar. O ideal é que o paciente vá para o tratamento de câncer com a adequação bucal realizada pelo cirurgião-dentista. Não deverá, por exemplo, haver focos de infecção, próteses desadaptadas, dentes cortantes (pontas fraturadas) durante a terapia. Além disso, a microbiota bucal deve estar o máximo possível equilibrada, ou seja, micro-organismos estarão presentes como de costume, mas na quantidade que não cause doenças (infecções). Por isso, se preciso for, a saúde bucal deve ser adequada, pois isso evita muitas complicações durante e após o tratamento.
Como forma preventiva de alguma inflamação da boca, a laserterapia pré, trans e pós-operatória é a melhor indicação. Produtos específicos para manter a boca protegida e lubrificada serão indicados e, em algum momento, talvez seja necessário o uso de medicações para prevenir ou tratar doenças fúngicas ou herpéticas. É que nesses tratamentos, as enzimas salivares que protegem a boca estão reduzidas, assim como o fluxo salivar que “enxagua” a boca. Então, é necessário muito cuidado para evitar a cárie.
A melhor forma de prevenção de todas as doenças bucais durante a terapia é controlar a higiene bucal, que deve acontecer no mínimo três vezes ao dia, com o uso do fio dental, escova de dente macia, creme dental fluoretado e enxaguantes bucais bem específicos (por favor, não use o que está na gôndola da farmácia). Evite alimentos açucarados. E como sempre digo, o acompanhamento, na saúde ou na doença, deve ser multiprofissional (odontologia, medicina, nutrição, psicológico…). Cada um tem uma necessidade, mas o cirurgião-dentista deve estar presente em todos os tratamentos neoplásicos.
Manter ao máximo a qualidade de vida e o bem-estar dos pacientes os mantém em continuidade a qualquer terapia antineoplásica. No entanto, se a inflamação bucal se complicar ou se as infecções não forem controladas, o tratamento normalmente é suspenso e a sobrevida do paciente diminui.